quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Primeira vez


Quando comprei meu carro tive a ingênua esperança de que, como em um passe de mágica, eu ficaria mais bonito. Acho que acontece com todo mundo, ou pelo menos com muita gente. O automóvel é um fetiche, e o homem que sai da concessionária dirigindo o seu, nunca tendo dirigido outro que não o da autoescola, tem que necessariamente sentir-se envaidecido, sob pena de não parecer humano.
Enganei-me, porém. É verdade que muitas pessoas vieram falar comigo, dizer ai que carro lindo, recomendar posto de combustível e tipo de gasolina, indicar local de lavagem etc. Mas o foco da questão era sempre o carro, não era eu. A ponto de as pessoas olharem apenas para o carro, inclinarem-se em reverência olhando de baixo pra cima e pondo-se na ponta dos pés para olhar por cima. As mãos ao lado do rosto e os olhos apertados para ver através dos vidros como era o interior. Eu abria a porta e esperava que as mulheres entrassem, sentassem e me convidassem para levá-las pela cidade numa voltinha.
Mas isso não aconteceu.
Os caras, ao contrário, até pediam para dirigir. Eu fazia que não tinha ouvido e dizia senta aí do lado do carona pra gente dar uma volta no Centro. Eles gabavam o interior e reclamavam que eu não acelerava. Acelera aí, dá umas arrancadas pra gente sentir o motor. Eu sorria e ignorava a tolice.
O cheiro do carro era muito agradável. O interior novinho exalava um odor realmente inebriante. Sei que andei por semanas com o nariz arrebitado ao volante, como se o assento do carro me impusesse um ar superior. A gasolina explodindo no motor inflava o meu ego e me punha alienado de mim mesmo, hipnotizado pelo poder metálico do automóvel.
Quando finalmente entendi que andar pelo Centro da cidade não faria cair uma mulher no meu colo nem no banco do carona, resolvi aderir à ideia de lançar-me a uma danceteria. Pensei em convidar algum amigo, mas desisti logo, pois como eu faria com a garota? Não. Era melhor ir sozinho para poder ficar mais à vontade com a gostosa que eu pegaria e levaria para o motel. Sim, porque eu não pensava em comê-la no banco do carro. Não era assim que eu pensara perder meu cabaço.
Eu não tinha mais nenhum sonho romântico de encontrar a mulher da minha vida, nem mesmo pensava em fazer amor com uma moça bonita e delicada com quem eu namoraria meses antes de nos deitarmos na cama dela, perfumada e macia, para uma noite de encantos e carinhos. Uma foda me satisfaria, e, contanto que não fosse com uma baranga horrível, uma mulher era o que bastava.
Fui para Lajeado no local onde, segundo informações, era fácil pegar mulher. Me disseram inclusive que lá as mulheres é que te pegavam. A ressalva era que não se tratava de meninas de dezessete aninhos, mas mulheres com mais de trinta e cinco. Melhor ainda, pensei, pois as ninfetas nunca me atraíram, sobretudo porque o que eu queria era mulher experiente, que não esperasse de mim nenhum enlevo e afeto que eu não estivesse disposto a oferecer.
O salão era amplo, com dois ambientes: um para dançar e ficar em volta conversando e bebendo, e um mais reservado, com mesinhas onde aqueles que quisessem descansar de ficar de pé e trovar sentados podiam satisfazer-se.
Havia muita gente. Estava lotado. Uma confusão de corpos, braços e pernas girando ao ritmo da banda. Não era música eletrônica, portanto o homem ou a mulher tinham que tirar a companhia para dançar e fazê-lo conforme era praxe nos tempos de antanho: braço esticado, o outro nas costas da mulher e ela no ombro dele, os corpos um diante do outro, umbigos bem próximos.
Comprei uma lata de cerveja, pu-la no copo e escondi-me atrás dele. Andei pelo salão desviando a custo dos outros. Dei uma volta completa, fitando com mais atenção algumas mulheres, fosse para olhá-las nos olhos, fosse para encarar suas bundas gostosas e peitos querendo estourar sob os decotes. Cada boazuda que, na segunda volta que eu dava, parei a um canto constrangido do volume que me crescia dentro das calças.
A chave do meu carro balançava no meu cinto, acintosamente pendurada. Eu, sem perceber, punha a mão na chave como se acariciasse minhas bolas, alisando-a com delicadeza e intenção, encarando ora uma loira ora uma morena. No entanto, a estratégia não me rendeu nenhum fruto, e aquela história de que ali as mulheres é que pegavam os homens não se confirmou. Pelo menos não para mim.
Flagrei alguns beijos gulosos entre casais que se apertavam cheios de ansiedade e desejo, e tive inveja deles.
Perambulei pelo salão e sentei-me no segundo ambiente, sozinho, com um resto de cerveja no copo de plástico. Embasbaquei-me por alguns minutos, olhando o movimento, vendo diante de mim pessoas cujas formas se misturavam, de variadas cores, todas elas envoltas num único cheiro de cigarro, suor e álcool.
Bebi o último gole de cerveja, quente. O sabor horrível concentrou-se na minha boca, fechei os olhos, fiz uma careta e engoli. O líquido caiu-me no estômago como um soco. Não contive um ah irritado. Súbito, levantei e pus-me a caminho da saída.
Andar pelo salão da danceteria fora tão produtivo quanto trafegar pelo Centro da cidade, com a diferença de que o êxito alheio daqueles que enfiavam suas línguas boca adentro das mulheres de trinta e cinco anos presentes na festa me enlouquecia. Alguns daqueles filhos da puta provariam os beijos de cinco, seis, até dez ou vinte daquelas mulheres, esfregariam seus corpos nelas e meteriam as mãos em suas bundas e peitos. No final da festa, comeriam a mais gostosa entre elas, apertariam suas carnes e enfiariam por entre suas pernas um pau latejante e sôfrego, vaidosos por ter se esfregado em várias outras sem contudo tê-las penetrado, pulsando de tesão mais por si mesmos do que por elas.
Antes de ir para casa dei uma volta pelo Centro. Passei por duas prostitutas feias e uma dúzia de travestis, mais bem arrumados e parecendo mais mulheres do que elas. Endireitei o volante depois de uma curva e tomei o rumo de casa.
Estacionei na garagem, entrei em casa e fui ao banheiro. Mijei uma urina espessa, amarela e espumosa como a cerveja que eu tomara. Sacudi meu pênis, murcho e decepcionado.
Mas ao deitar-me na cama, lembrei-me das mulheres da festa, dos beijos que flagrei, aquelas peles lisas rebrilhando regos entre peitos redondos e macios. Meu pau enrijeceu, logo ficou duro e pulsou dentro da cueca. Peguei-o, apertei-o em minha mão, livrei-me da roupa e puxei o prepúcio, iniciando um movimento agressivo de masturbação.
Bati uma punheta angustiada, os olhos fechados no escuro do quarto, com as imagens daquelas mulheres pipocando em minha cabeça. Gozei depressa e sem prazer. Detive o esperma com a mão em concha e logo a porra escorrendo entre meus dedos enojou-me. Levantei cuidando para não lambuzar o lençol e o cobertor. Limpei-me com minha própria cueca, fui ao banheiro lavar as mãos e joguei a roupa suja dentro da máquina de lavar.
Demorei para dormir. Acho que se passaram horas. Quando finalmente senti que o sono me abocava e envolvia, veio o sol, iluminou o dia e me despertou.
Fora a primeira das três tentativas que fiz de ficar com alguém em uma festa em danceteria. O primeiro dos três fracassos.
Andei por outros lugares: balneários, lagoas, praças, bares, lancherias, lojas, shoppings. Sempre com a chave à mostra mas incapaz de aproximar-me de alguém e entabular qualquer conversa. Fazia-o com minhas antigas amigas e colegas de trabalho ou de escola, mas estas pareciam incapazes de me enxergar ou perceber minhas insinuações. Eu me fiava na ideia de que alguém abriria espaço para mim com um sorriso, um gesto, ou mesmo viesse até mim, poupando-me deste trabalho.
Enganei-me.
Um dia visitou-me um ex-colega de trabalho. Ele era mais tímido e feio do que eu: ruim de matemática, nenhuma habilidade com as palavras, tanto na fala quanto na escrita, um nariz aquilino com um calombo no tabique, olhos claros mas inexpressivos, cabelos ralos e profundas entradas de careca precoce. E, para completar, meio vesgo, mais precisamente estrábico do olho esquerdo.
Sentou-se na cadeira que lhe estendi, eu animado com a visita dele, ele com um ar suspeito, um sorrisinho malicioso nos lábios. Eu olhei de lado, inclinando a cabeça e sorri perguntando o que é que tu andou aprontando.
Ele respondeu tá tão na cara assim, com voz baixa, sempre falando mais para si do que para os outros. Eu insisti fala logo, não vem me enrolar que esse teu ar de sem-vergonha não me engana. Estive em Porto Alegre terça passada, ele iniciou. Tu já ouviu falar do site vip luxúria, perguntou. Eu respondi que não e ele me explicou que era uma página com dezenas de acompanhantes, jeito chique de dizer dezenas de putas, as quais podiam ser escolhidas pelo cliente que, mediante ligação, agendava um programa. Ele retirou o notebook da pasta que trouxera, abriu-o e conectou-o à internet.
Eu acompanhei sua narrativa meio boquiaberto, com um sorriso desconfortável nos lábios. Quando a página abriu, ele virou a tela para mim e disse esse é o site. Aqui você clica para ver as mulheres, aparece a foto e, se você clicar em uma delas, abrem outras fotos e o perfil delas, incluindo medidas e o que elas fazem, se topam sexo oral, anal, orgias etc. Eu escolhi uma morena, o nome dela era Éllen, tinha uns peitões e uma bunda bem gostosa. E o que vocês fizeram, eu perguntei com o sangue fervilhando e o pau crescendo. A gente foi num motel, ela foi super atenciosa, bem querida, tirou a minha roupa e me fez um boquete. Depois tirou a roupa, deitou na cama e se virou, ficou de quatro, empinou bem a bunda e disse vem, me fode gostoso. Eu comi ela de tudo quanto foi jeito, mas acho que tive um problema e não gozei. Ela insistiu, me chupou, até me deu o cuzinho, dizendo que abriria uma exceção para mim, que ela não costumava fazer isso sem cobrar um extra. Mas não adiantou. Ela pareceu meio frustrada, mas quando terminou a hora vestiu-se, pegou o dinheiro e me pediu para levá-la de volta.
E quanto custou, perguntei. Só ela custou duzentos, mais o motel, o táxi e o ônibus. Dá uma olhada, e clicou sobre a foto da Éllen. As outras fotos apareceram, ela nuinha e em poses sensuais. Era bem gostosa mesmo. Valia cada centavo. Fixei o olhar na bunda dela e pensei não acredito que esse bosta enfiou o pau aí dentro e não gozou.
Conversamos por mais uma hora e eu fiquei com o computador clicando nas fotos das outras, pensando qual delas seria minha. Ao final levei-o para casa no meu carro e ele disse que valia a pena. Estava só esperando juntar um dinheiro para ir de novo, com outra, experimentar uma loira que ele até já escolhera.
Eu não falei nada, nem que ia fazer o mesmo nem que não. À noite, sentado assistindo TV, eu não conseguia me concentrar em nada além do fato de que ele, ao contrário de mim, já não era mais virgem. Não conseguia tirar da cabeça a imagem dele pelado enfiando-se dentro daquela morena, penetrando sua buceta depois da boca úmida dela ter chupado seu pau, e por último ela dizendo mete no meu cuzinho que eu vou abrir uma exceção pra ti porque eu quero te sentir gozar dentro da minha bunda. Ai, meu deus, isso não era justo.
Levantei-me de súbito, peguei a chave do carro e fui para o Centro, determinado a achar uma prostituta e perder a porra desse cabaço que estava me deixando louco.
As voltas que dei foram muitas. Fiquei andando em círculos, contornando quadras com o coração disparado, a cabeça doendo, os pensamentos trespassando-me como facas afiadas, piscando em flashes desconexos. Eu estava nervoso, sentia as mãos excessivamente firmes apertando o volante, os braços meio trêmulos, eu inteiro agarrado naquela ideia, subitamente ensandecido, obcecado.
Meus olhos iam e vinham conferindo os retrovisores, temeroso de que algum conhecido estivesse na minha retaguarda e percebesse o que eu estava querendo.
Os travestis acenavam, gritavam e balançavam as tetas de silicone expostas como troféus. Eles não me interessavam, ainda que tivessem uma aparência melhor que a das putas. Passei por três delas. Duas morenas e uma loira, pela qual me interessei. Desacelerei o carro e passei perto dela olhando-a fixamente, de cima a baixo, mas concentrando-me no rosto, cujo aspecto seria conclusivo. Ela empinou a bunda e fez cara de safada, sensualizando com a língua espichada lambendo os lábios.
Não parei. Virei à direita e na próxima esquina novamente à direita, e de novo à direita. Passei por ela três vezes antes de parar. Conferi os espelhos para certificar-me de que nenhum outro carro se aproximava. Eram onze e meia da noite.
Abri o vidro do lado do carona e ela imediatamente se encurvou metendo a cara para dentro numa pose que arreganhava o decote, o qual, no entanto, revelava peitos nanicos, só uns bicos metidos sobre um caroço de gordura.
Oi, gato, tá a fim dum programa gostoso. Queque cê faz, eu perguntei. Tudo, só não faço anal.
Era uma restrição inoportuna, mas eu não queria comer a bunda flácida dela. Se fosse um cu o meu desejo, valeria a pena pagar por um traveco de bundinha dura, e não aquela puta sem massa muscular nem carne nas ancas. Mas o que eu queria era uma mulher, uma buceta para enfiar meu pau enterrando-o até as bolas numa carne úmida.
E quanto é, questionei. Cinquenta, ela disse. E onde a gente pode ir. Ela me respondeu indicando um local que eu não conhecia e, pelo nome, não era nada confiável. Perguntei se tudo bem se fôssemos no Cascata. Ela disse que tudo bem. Destravei a porta e deixei-a entrar.
Ela sentou-se de lado, olhando para mim. Passou a mão na minha coxa e eu disse não, que esperasse chegarmos ao motel. Ela disse tudo bem com uma voz contrariada e endireitou-se no banco. Ainda tentou entabular uma conversa, mas eu não lhe dei atenção. Sentia-me muito ansioso. Meu nervosismo bloqueava meus pensamentos e minha voz saía entrecortada. Eu estava eletrizado. Só conseguia pensar que me livraria de um peso, um fardo, uma cruz, e tentava tranquilizar-me pensando que logo tudo ficaria bem.
Subi a pequena rampa que dava acesso ao motel, parei o carro e pedi um quarto. O recepcionista disse número dezoito e eu pensei que seria a entrada para minha maioridade. Estacionei, olhei a puta ao meu lado e disse vamos.
Fiz a gentileza de deixá-la subir na frente. O quarto ficava no segundo andar, sobre a garagem. Aproveitei para olhar por baixo de sua sainha e espiar sua bunda, dividida por uma calcinha vermelha atochada entre as nádegas.
O quarto tinha uma cama de casal, alguns espelhos e foi só o que eu vi. A roupa de cama era branca, o que me alegrou por parecer higiênico.
Ela perguntou você não vai tirar a roupa. Eu disse não, quero que você tire primeiro. Fi-lo porque me dei conta que eu estava nervoso e mole. Mesmo imaginando-a nua dali a instantes rebolando enquanto eu a penetraria, não me excitei.
Ela se despiu de maneira sensual, fazendo um strip diante de mim, ajoelhada na cama. Eu permaneci de pé. Ajeitei meu pênis enfiando a mão dentro das calças. Ela aproximou-se, desceu da cama, ajoelhou, baixou minha calça até o tornozelo e lambeu minha pica, umedecendo-a com a saliva e apalpando minhas bolas. Abocanhou-a inteira enchendo a boca. Senti que o sangue afluía endurecendo meu pau. Alcancei a camisinha e disse coloca pra mim. Ela abriu a embalagem, pôs a ponta na boca, entre os lábios, e colocou o preservativo no meu pênis semiendurecido.
Ela serpenteou para cima da cama e pôs-se de quatro na beirada do colchão. A seguir, abaixou a cabeça e empinou a bunda meio flácida, os peitos uma tábua com dois bicos mordidos roçando o lençol, o rego escuro entre as nádegas em cujo meio o cu se apertava fechadinho e eu, pegando-a pela cintura, dando três bombeadas antes de ejacular e encher de porra a camisinha, sem nem ao menos ter completado a ereção, o pau mais mole do que duro.
Tirei-me de dentro dela, despi a camisinha com pressa de levantar as calças e livrar-me da sensação de ridículo que se apoderara de mim. Andei até o banheiro e num acesso de limpeza enrolei metodicamente o preservativo no papel higiênico e lancei-o no lixo. Lavei as mãos esfregando-as com força. A prostituta veio até perto de mim, ainda nua, molhou a mão, ensaboou-a e esfregou a buceta. Depois secou-se e voltou para perto da cama, onde catou suas roupas e vestiu-se.
Ela ainda abriu o frigobar e disse vou pegar uma cerveja, você não vai me negar uma cerveja, vai? Eu disse tudo bem, pode pegar, mas agora vamos embora. Eu te deixo onde? Na esquina onde eu tava, ela respondeu com um tom de voz levemente irritado com a pergunta óbvia que eu fizera. Acrescentou que o pagamento devia ser feito ali, eu cobro antes de a gente ir embora. Abri a carteira e tirei os cinquenta reais que combináramos.
Paguei a conta do motel, outros cinquenta, e andei o mais depressa que pude. Ela disse ui, tá com pressa, e eu não respondi, o olhar vidrado na estrada diante de mim. Olhei em todos os retrovisores e me tranquilizei porque não havia ninguém atrás de nós. Parei o carro, ela disse adeusinho então, até a próxima.
Acelerei e voltei pra casa no mesmo estado catatônico em que saíra. Entrei no banheiro, pelei-me, ensaquei as roupas e decidi atirá-las para fora de casa assim que eu terminasse aquele banho longo e quente, demorado e reconfortante que o ruído do chuveiro indicava ter apenas começado.

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